O HOMEM DO JORNAL
Não sei quando irão perceber que sou um doente... Sou um maníaco.
Como são ingênuas as pessoas! Principalmente minha esposa que pensa que sou um homem atencioso, primoroso, bondoso. Com toda a minha fúria, a minha esposa é a única que eu procuro não maltratar. Eu dependo dela. Para mim, ela é como uma mãe que não tenho mais... É mais que uma mãe, pois com ela eu descarrego meus desejos de um homem normal. Eu tenho duas faces... Eu sou um hipócrita, mas quem não é?
Ao chegar em casa depois de tudo que faço, ela me recebe de braços abertos e tudo ali dentro de minha casa, está pronto para ser apreciado e aproveitado como se deve.
A banheira já está preparada com sais de banho e muita espuma, e é nela que eu retiro as impurezas de meu corpo, onde em alguma parte dele, ainda se encontra gotas de sangue. O jantar pronto para ser servido, preparado com muito zelo... Depois de tudo isto, descanso um pouco em meu escritório, onde encontro o meu livro de escrivania. Atualmente estou lendo livros de Giorgio Faletti, eles me ajudam em meu oficio... Esto lendo Io Uccido - "Eu Mato". Leio sempre um pouco, tomando um delicioso chá preparado com carinho e não sei o que contém neste chá, parece afrodisíaco! Depois que tomo, só quero uma coisa... Quero pegar a minha mulher à força para fazer do jeito que eu desejo. Sou eu que exijo prazer.
E assim vou vivendo minha vida, tentando ser uma pessoa discreta. Todas as manhãs encontro em minha escrivania o jornal que minha esposa gentilmente deixou, para que eu possa ler e ver anunciando mais uma morte. Pego o meu jornal, vou para o Café onde frequento, me sento naquela mesma mesa de sempre, peço uma água, um belo café ao creme e começo a ler o meu jornal. Abro nas crônicas porque o que eu quero ler é sobre mais uma morte que aconteceu em dias antecedentes ou até mesmo na noite anterior. Tanto mistério no ar! Atualmente todos ali no bar, não falam outra coisa que não seja estas mortes horrendas.
"Será quem matou mais uma dama elegante que improvisamente, foi atacada por alguém em uma rua silenciosa, recebendo uma facada fulminante a deixando nua e estirada pelo chão? E porque todas tem em seu rosto, uma marca registrada... Uma letra C, mas o que isto quer dizer?"
Todos estão ali a perguntar e somente eu sei o que significa. Com esta marca, eu quero dizer que a encontrei no Café, apenas isto. Elas não morrem em uma rua silenciosa...
Todas elas frequentam o Café Nespresso Krups, o mesmo café que eu frequento todas as minhas manhãs, antes de apreciar mais um de meus dias de predador. Sou eu o serial killer e ninguém percebe.
As mulheres daquele bar são mesmo ingênuas! Acreditam cegamente em homens que as cortejam. Quantas vezes vi entrar uma senhorita sozinha e depois sair acompanhada com algum homem que ali estava. Saem sorridentes como se tivessem ganhado o dia. Ingênuas porque estes homens estão aqui, pretendendo mais uma vez, cortejar uma delas. São apenas aventuras passageiras. No meio destes homens, ali estou a esperar que uma bela mulher saia sozinha, porque é do lado de fora que procuro me aproximar, fazendo com que aceite conhecer a minha livraria. É muito fácil a aproximação, no meio de toda a multidão. Convido sorridente para conhecer a minha livraria... Descrevo toda a beleza que possa existir lá dentro, comparando com a beleza dela e falo:
"Ainda não teve o privilégio de conhecê-la? Faço questão que me acompanhe... Você precisa de conhecer tudo que tem ali para ser apreciado. Se aceitar te levo imediatamente. Vai encontrar as mais belas estorias que os autores podem nos oferecer. Vai encontrar as estórias de Moby Dick... Sabe que olhando e observando você por toda a manhã, percebi no ar, por você conseguir demonstrar, que você é forte e corajosa como Moby Dick?"
E ela sorri... Ela se contorce de felicidade.
"Fale mais"... Diz ela
"Grande como Guliver... Esperta como Gato de Botas! Muitas vezes ao te olhar, te vi ingênua e singela como Branca de Neve e o melhor de tudo é poder ver em você, um rosto carente, desejante de paixão como Cinderela!
"Que beleza as suas palavras... Nunca ninguém me viu assim." Falou ainda mais sorridente.
"Tudo isto tem em minha livraria, quer ver? Eu lhe mostro tudo que tem ali, até chegar na melhor parte"...
"Qual?" Logo pergunta.
"O romantismo juntamente com o erotismo. Tem cada livro que ao ver as ilustrações a gente não resiste... Ali mesmo naquele chão eu te possuo!"
Falo e elas aceitam. Sinto até que querem ir direto para a prateleira do livros eróticos.
Nem sou tão belo, mas sei conquistar! Como podem acreditar em elogios como estes? Em meias palavras enganadoras. Não tem como definir uma pessoa apenas com um olhar. Estes elogios, são elogios que se usam quando se conhece à fundo uma pessoa. Elas acreditam no primeiro encontro. Parece que necessitam de elogios baratos. Parece que são carentes.
É tudo tão fácil! Vou ao bar, tomo um café, bebo minha água fresca, faço de conta que não estou vendo nada do que está acontecendo ali dentro, procuro ler o meu jornal, enquanto escolho a presa da semana ou muitas vezes, espero 15dias passar ou até meses.
Depois vem os elogios, a conquista rápida, a satisfação de conseguir levá-la onde quero, mesmo ela sabendo o que vai receber de mim. Carinhos e sexo e... É um prazer conquistado, não sou violento em minha aproximação, nem tão pouco quando as possuo. Procuro conquistá-las suavemente, lentamente dando afeto. Em dias assim, não abro a livraria, permanecemos por todo o tempo juntos e sem pressa. Mostro tudo que elas desejarem ver e depois começo o meu ritual com tamanho desejo. Sinto os corpos quentes sobre mim... Eu as deixo brincar de amar com muito ardor.
Nem sei porque no final de todo aquele sexo desejado, eu mais uma vez, me torno um assassino. Este momento, é o meu maior prazer. É grandioso. Me sinto um vampiro!
Quando leio os jornais, vejo o quanto as investigações estão longe de descobrir quem é o Serial Killer. Não deixo rastros e cada uma, eu escondo em lugares diferentes e distantes uma da outra. Única coisa que coincide, é a marca idêntica que elas recebem em seus rostos, a letra C... Café.
Nas declarações dos jornais atualmente, dizem que as investigadores pensam que a letra C pode representar um nome de uma pessoa. Estão longe de encontrar a verdade... Me chamo Robert.
Muito antes de deixá-las em algum lugar, eu calmamente as lavo, retirando sinais que eu possa ter deixado e seus vestidos não estarão mais com elas. Eu os queimo. Que trabalho árduo!
Porque Faço isto? Acho que é só porque não pretendo que elas continuem a me procurar. Não quero que elas atrapalhem a minha vida conjugal. Não desejo que nenhuma delas se intrometam em meu maior particular que é o meu casamento. Meu casamento é tão lindo, tão agradável, tão verdadeiro e prazeroso. Meu casamento é a minha felicidade e não desejo destruir isto.
Muitos se soubessem de mim, poderiam pensar que sou louco. Não... Não sou um louco. Sou doente de desejos. Sou apenas um homem com um tesão incontrolável!
Autora do conto: Aymée Campos Lucas
Autora da Tela: Sueli Gallacci
Sueli, como havia te prometido, hoje decidi criar um dos contos, olhando a sua obra de arte.
A autora desta tela, é para mim uma pessoa maravilhosa e admirável, ao qual me considero amiga. Com ela posso ser eu, posso brincar, falar o que penso porque somos muito parecidas e conseguimos nos entender muito bem.
Sueli tem dois Blogs... A Cor Da Gente e Cronicas & Agudas.
Em A Cor Da Gente se encontra suas obras de arte, ela expõe e nos ensina todas a técnicas de uma pintura. Ela não esconde segredos... Gosta de ensinar, talvez por amar tanto esta bela arte.
Seu blog é um encanto. Eu adoro, apesar de ultimamente ela não está tão presente como antes.
Aprendi muito com ela, apesar de saber que não sou capaz de criar uma tela. Aprendi para saber apreciar como se deve.
Ao olhar para as suas telas, além de observar o que ela ensina, eu procuro movimentar as suas pinturas... Invento. Procuro também dar um nome diferente, só para brincar com ela, e com isto vendo esta tela que se chama: Café que é criação de Sueli, eu modifiquei dizendo de se chamar: O Homem do Jornal... Um homem nada Formal!
O conto eu sei que é um pouco exagero, porque nenhum crime é perfeito.
Foi assim que tudo aconteceu... Eu enviei um recado para ela e aqui mostro um pouco dele:
Olá,
Memorável! Eu fiquei daqui encantada! Fitei em minha mente para não esquecê-lo.
Quando
vi anunciar a sua postagem no meu blog, pensei que você estaria
mostrando o trabalho de algum artista que você admira.
Ao ver a sua assinatura na tela fiquei novamente deslumbrada!
Sueli não tenho palavras para dizer o quanto amei este quadro. Parabéns mil vezes pela a sua dedicação!
Eu queria conseguir ser assim na minha escrita... Cada vez mais ser admirada!
Lendo
a sua explicação, você dizia uma coisa que já tinha percebido antes que
lesse o que escreveu. Percebi que quanto mais distante a pessoa, mais os
rostos desapareciam, focando mais aquele senhor com o jornal. Achei
este detalhe muito interessante.
Me deu a impressão que no quadro
houvesse uma estória para contar e o personagem principal seria o homem
do jornal.