Desejava mais que tudo estar abraçada com o meu ursinho por todo o tempo. Mas não poderia... Deveria escondê-lo. Pensei em deixá-lo com minha irmã, mas aquele ursinho se estivesse ao meu lado, me faria sentir mais ainda a presença de Juliano porque por todo o seu pelo tem seu cheiro... Eu queria dormir sentindo aquele cheiro, eu queria o tempo todo me sentir perto dele, porque estava realmente apaixonada. Era tão bom o perfume...
Se Júnior soubesse o que fiz, como reagiria? Com toda a sua calma, será que ele realmente iria lutar para que este relacionamento não terminasse? Como reagiria sabendo de uma traição?
Nunca pensei em vê-lo chorando. Emoções como esta são raras, não podemos ignorar. Eu aqui não faço outra coisa que exalar veneno... Me sinto um ser pequeno.
Eu sei que enquanto um esta chorando por se sentir inseguro, sentir dor... O outro que te trai, poderá esta sorrindo e ignorando a dor existente que fomos nós que causamos... Mas eu não conseguiria. Evitaria até mesmo uma nova aproximação com Juliano, iria embora sem dar um adeus, somente por não querer ferir Júnior outra vez. Usaria todo o meu tempo para procurar esclarecer meu erro de uma maneira não tanto transparente para não ferir. Quero terminar meu relacionamento com muita calma... Seria um pedido de perdão como se tentasse resgatar o respeito por alguém que tem valor.
Não diria que poderíamos ser amigos porque esta escolha não seria eu a fazer e sim quem sofre consequências. A única coisa que sei neste momento é que não quero sentir a presença de Juliano, em um ambiente que exista Júnior como havia feito antes. Não sairia de perto dele de maneira alguma. Juliano poderia não entender e se afastar realmente de vez e isto confesso que me faria muito mal porque estou apaixonada por ele e o desejo tanto ao meu lado um dia. Ele precisaria compreender este meu comportamento... Não seria eterno! Seria momentaneamente e se Juliano não entende isto, não me merece.
Júnior para mim é uma pessoa de grande valor. Eu o desrespeitei mas eu não sei tratar como um inseto um ser que me deu somente amor.
Esta é a minha decisão, não vou falar nada do que aconteceu. Será meu segredo e não terei que dividir com Júnior para magoá-lo mais ainda."
- Elisa o que você achou? Ele está melhorando?
- Sim! O que a vida está exigindo dele, está fazendo com que ele melhore a olho visto. A vontade de sair desta cama é grande demais, não é Júnior?
- Sim, é verdade. Hoje me sinto bem e quero mesmo sair daqui, apesar de ter gostado de ver Olívia o tempo todo ao meu lado, que nem um cãozinho de guarda.
Se a vida esta me mostrando algo que não aceito, terei que compreender para poder aceitar.... Em parte a culpa deve ser minha também.
Falou me olhando profundamente. Foram palavras de uma pessoa muito inteligente e reflexiva. Mostrou para mim que sabe perder mas precisava de respostas. Eu me senti encurralada, pareciam que os dois estavam me encostando contra um muro... Eu ignorei mudando o assunto:
- Quantas injeções ele terá que tomar?
Perguntei.
- Geralmente são sete dias consecutivos, mas visto que está para viajar, faremos apenas quatro dias e depois dará continuação com comprimidos.
- Que bom que melhorou e melhor ainda foi ver que você não gritou, desta vez. Parecia mais corajoso.
Falei sorrindo.
- E' verdade, ele não gritou. Muitas pessoas agem deste modo, sempre com a primeira experiência de algo que tem medo. Depois que vê que não é assim tão assustador, o enfrenta com coragem.
- Você está certa Elisa. Eu sou assim mesmo, tenho medo do inesperado e vivo desejando proteção das pessoas que eu confio. Agora, quando não é a minha avó que me protege, tento buscar em Olívia o carinho que desejo. Nem sei explicar isto bem... Só sei que é assim um pouco animalesco. Olívia pode achar que não, mas eu preciso dela perto de mim, porque ela é uma pessoa forte e decidida.
Injeções sempre me assustaram e para dizer a verdade eu nunca havia tomado.
Falou um pouco sem graça, por ter agido como uma criança.
- Deveria só fechar os olhos e pensar em algo que você gosta muito, porque é tão passageiro!
Falei ensinando a não sentir medo.
- Não pensei nisto.... Deveria ter pensado em você, amor!
Falou com carinho quando Elisa responde:
- Que modo carinhoso de demonstrar amor. Eu vejo em vocês dois um belo casal... São duas pessoas serenas e isto ajuda muito para tudo dar certo. E Olívia gosta muito de você, Júnior. Podemos ver pelo cuidado que te dedicou.
- Teríamos que sair urgentemente daqui para que nós dois pudéssemos dar certo.
Falou sério e rude. Ele sabia que muita coisa havia mudado e parecia que tentava resgatar algo que para ele ainda era forte demais, sabendo que Juliano estava tentando atrapalhar, mas não sabia que eu já havia atrapalhado tudo.
Todo o seu comportamento tinha agora uma explicação... Todo o seu silêncio foi para ele um sinal de defesa, mas parece que agora ele não quer mais perder.
- Bem agora devo ir. Amanhã, venho neste mesmo horário, tudo bem?
Se despediu de Júnior e depois a acompanhei quando perguntei se poderia falar com ela por alguns instantes. Disse que era muito importante.
- Fale! O que houve?
Perguntou surpresa...
Neste momento a puxei para perto do corredor onde não havia ninguém por perto. Lucas e Letícia estavam fora de casa que conversava com Cornélia.
- Elisa é muito sério o que quero te dizer e perguntar. E' sobre a morte de Rubens. Por favor Elisa!
A família de Rubens é muito infeliz por tudo que aconteceu... Eles sofrem desejando a verdade. Perderam uma pessoa que amavam e imploram a você a verdade.
Elisa arregalou os olhos e demonstrava tanto nervoso que senti seu corpo tremer ao tocá-la.
Me olhou e falou:
- Não me peça isto! Eu não sei de nada. Olívia não se meta nesta história é muito perigoso.
-Porque você tem tanto medo de falar? Uma pessoa que te amava morreu Elisa! Todos sabem o quanto Rubens te amava e você faz silêncio? Isto é absurdo, porque se você sabe deveria falar. Por isto existe a justiça... Ela serve para impedir pessoas a continuar com atos sujos e se você se cala, você se torna cúmplice.
- Quando eu vi você e seu Filipe juntos, pensei que tudo aquilo que você vivia ao lado dele, era por amor... Imaginei vocês cúmplices no dia a dia com grande amor e agora não estou tão errada... Tem cumplicidade sim mas amor não! Este seu modo de agir protegendo e escondendo algo é cumplicidade, mas muito grave Elisa, daria prisão para você se viesse a ser descoberto e não existisse a sua ajuda.
Sonhos destruídos... Vidas destruídas. Quem poderia sonhar com dias felizes vivendo deste modo? Um modo assim tão sofredor. Antônio sofre e seu silêncio o destrói por não conseguir transmitir aos seus, serenidade e alegria.
Falei seriamente e com um tom de voz muito seca tentando assustá-la. Elisa estava precisando disto. Precisava de alguém que a acordasse e ao mesmo tempo prometesse em ajudar.
Aprendi isto com minha avó. Quantas vezes a vi reprimindo a minha mãe na minha frente. Adorava ver o olhar dela... Parecia um coronel e suas armas eram as palavras.
Eu queria deter esta mulher, deveria ouvir as confissões que ninguém nunca conseguiu ouvir e não a deixaria em paz enquanto isto não acontecesse... Nem que tivesse que amarrá-la em uma cadeira, ela não sairia dali sem falar toda a verdade que sabe.. Para mim Cornélia agora é uma das pessoas mais importantes da minha vida e eu queria ajudá-la mais que tudo!
Elisa estava silenciosamente assustada. Tentei tranquilizá-la dando afeto, mas ao mesmo tempo mostrava minhas garras...
- Elisa quanta coisa feia eu ouvi de você depois de semanas que estou aqui... Cheguei a ouvir que você é uma mundana. Eu não consigo acreditar nisto... Quando eu te olho, não consigo ter ver como uma pessoa sem escrúpulos. Sempre me pergunto: Como pode uma pessoa que cuida tanto de outras pessoas ser maldosa? E se Rubens te amou também não poderia ver isto em você. Digo isto porque as pessoas daquela família são pessoas extremamente dignas e bondosas.
Neste momento Elisa explodiu em um choro incontrolável. Eu não queria que ninguém se aproximasse, assim a puxei para dentro do banheiro porque seria um lugar discreto.
Tranquei as portas sem que ela pudesse perceber. O banheiro havia duas portas e além de uma delas que era em frente ao corredor, havia outra que ia de encontro à varanda. Não queria que ela escapasse então as tranquei.
- Fale, Elisa, por favor fale nem que seja somente para mim! Eu quero poder te ajudar, confie em mim.
Eu sei que você se envolveu com Juliano bem antes de conhecer Rubens... Por que? Por que Elisa?
Cornélia me contou tanta coisa. Contou, porque os homens envolvidos foram da família dela. E agora, ela sente muita vontade de poder conversar com você, mas Antônio irmão de Rubens, sempre a proibiu.
Falava e ela estava ainda chorando muito. Passados alguns instantes, ela debruçou seu rosto na janela e começou a me escutar com calma parando de chorar. Percebi que ela estava a pensar porque a via um pouco mais tranquila.
De repente, ela falou:
- Me promete uma coisa, Olivia? Me promete que irá me ajudar... Eu preciso muito de ajuda mas nunca pude confiar em ninguém.
Dentro de mim existe uma verdade escondida e é muito difícil poder dizer o quanto estou envolvida.
Me ajuda, por favor... Te contarei tudo! Tudo se você me prometer em ajudar... Tenho provas escondidas em um lugar que só eu e Rubens poderíamos conhecer.
- Não só te ajudarei, mas toda esta família estará do seu lado... Acredite em mim! São corações sofridos, mas também são sempre muito unidos.
Autora: Aymée Campos Lucas
Aventura de Louco, Todo Mundo quer um Pouco
Parte 1 Capitulo 25